Essa semana eu tive uma reunião em um estúdio que não é um
estúdio qualquer.
É uma produtora conhecida que fica em um prédio muito
simpático, com fachada low profile e ao lado de um buteco bolorento no centro.
Lá dentro só surpresas: Espaços bacanas, pé direito alto, madeira no chão, mas
o mais importante foi conhecer uma equipe que não há como medir palavras.
Por
eles já passaram alguns dos maiores artistas do mundo e acumulam uma bagagem
que nenhum aeroporto do mundo já conseguiu movimentar. Além de 3 grammys.
Lá o tônus é: Gravação, mix e master, ou seja: Cabelo, barba
e bigode.
Além do alto gabarito lá das pessoas, todas verdadeiramente
envolvidas na nossa arte, há algumas pérolas na forma de transdutores,
instrumentos, console e unidades de rack com componentes eletrônicos e
potenciômetros à disposição, a lataria bem dizendo, mas teve um detalhe que me
chamou muito a atenção: o Pro Tools HD 7.
Pro Tools HD 7?
Isso mesmo, rodando no Tiger em um G5. Aliás, combinação essa
muito boa, na época.
E estava rodando redondo, diga-se de passagem.
Daí conversa vai, conversa vem, um som aqui, outro som alí e
o que eu percebi é que a ideologia não era "gear oriented", apesar de
ter John Hardy, API, Jensens pelo caminho, um gravador de 2 polegadas e outras
guloseimas tecnológicas que aprecio tanto como café da manhã, almoço, lanche, janta
ou ceia.
Lá o molho vem do tutano, cozido por longas horas em fogo
brando.
E, nesse cenário de time que está ganhando, para quê fazer
upgrade para o 8? Que nem existe mais! Para o 9 ou 10 então? Também não tem
mais. Quem sabe para o 11 ou o 12? Bem, eu recomendaria só para ter o Clip Gain
e o Bounce offline rodando em 64 bits, mas daí teria que trocar tudo: computador,
placa, plug-ins...
Era então o 7 mesmo, o eleito, rodando lindo de uma Aurora
Lynx. Ah! Nem o hardware era DIGI? Para usar o nome da empresa na época. Não. "Digi"
só as placas com DSPs e o software rei.
É inegável que o Pro Tools é o software mais usado no mundo
e é também o software de gravação que eu mais gosto. O bom é que cada um usa
ele de seu jeito. Isso é que dá essa cor toda que ouvimos.
Tem gente que faz tudo in the box.
Tem gente que faz tudo out of the box.
No problem.
Só que não! (só para usar a expressão do momento)
Foi um choque pra mim.
Eu estou acostumado a olhar para frente; às vezes até para
frente demais, atrapalhando o que quero fazer com coisas que nem existem ainda.
Esse sou eu, eterno insatisfeito com o presente, altamente crítico e com uma
veia gear oriented que não posso negar. Eu gosto de equipamento, mas eu só gosto
de coisa boa! Isso é culpa da frescura, quero dizer, dos fabricantes, certeza!
Quem mandou eles a cada minuto lançarem uma coisa mais interessante que a outra?
Pelo menos ao meu ver é assim: Como posso ter o som do Moog? Tem que ter um Moog.
Plug-in? Não dá! Só Moog tem som de Moog. Tem batata com sabor de
mandioquinha*? Gosto de mandioquinha só mandioquinha tem. Então, algumas coisas
a gente tem que ter. Depois, quando a gente compra essa tal coisa, precisa
ficar mudando a cada ano como se muda de carro ou a cada dia como se muda de
roupa? Realmente não sei responder sinceramente essa pergunta, mas especulo: Se
essa nova coisa vai ser construtiva e a gente precisa dela, acredito que sim.
Se vai resolver um problema que não existia antes dela e não é um uplift,
talvez não.
*também conhecida como batata baroa fora de São Paulo.
Daí eu fiquei pensando...
Qual é a magnitude das diferenças entre o Pro tools 7 e o
Pro Tools 11 - já que o 12 ainda está em gestação - que não fez um upgrade ver
a cor do dia lá?
São pelo menos 9 anos de distância entre eles, que para a
tecnologia moderna corresponde ao espaço de tempo entre o período Jurássico e o
Cretáceo para os geologistas, algo em torno de 100 milhões de anos. O mundo mudou nesse ínterim, mas lá o som continua fluindo de
forma fiel e atual e até atemporal, devo dizer.
O Pro Tools lá é uma mera ferramenta que não opina. É apenas
um servo obediente que realiza o que precisa ser feito assim como uma
calculadora e não fica no caminho. Quase invisível.
Faz falta o Clip Gain lá? Talvez sim. Bounce offline faz
falta lá? Pode ser. Quem aí precisa de lançamentos? Ok, aquele alí? Ele alí que
levantou a mão também precisa. Ela alí atrás, aquele outro colega lá, eu...
É óbvio que existem muitos e muitos recursos que melhoram o
dia-a-dia no Pro Tools 11 em relação ao 7, se fosse assim ninguém teria migrado
do tubo de raios catódicos para diodos emissores de luz. É claro que em algum
momento para a maioria não tem como ficar parado no tempo e em determinado
momento o próprio momento implora pelo upgrade, mas nem sempre ele chega em
todos os lugares. Nada estranho.
Daí eu pensei mais um pouco...
Quantos anos o Michael Hedges usou a "Barbara"
(seu violão Martin D-28 1971)?
Pois é, provavelmente ele não estava pensando no novo Taylor
(apesar ter usado muitos violões). Aliás acho que nem pensava também se ia sair
em dórico ou em lídio, nem no tap que ia fazer no próximo compasso, nem em
núvens ou elétrons fluindo pelo nada. Provavelmente ele não estava pensando em
nada quando tocando e provavelmente nada mais importava naquele momento. Quem faz
arte sabe que isso acontece e, quando acontece, tudo derrete ao redor.
Portanto a minha conclusão é: Tutano é o que interessa, mas accrescento: ame os equipamentos pelo o que
eles são e oferecem. Se valem a pena por algum motivo, ótimo. Se vai apenas
gastar Watts e/ou seus suados Reais, esqueça-os.
Bom, papo vai, papo vem e mesmo tentando em vão não extender
os detalhes do existir ainda não falei de Pro Tools de uma maneira mais
objetiva, razão pela qual escrevo nessa revista. Então, alinhando a coluna
escrevo aos meus fiéis leitores (que conseguiram ler até aqui e querem expandir
seu conhecimento) que vou compartilhar hoje
um assunto universal que serve tanto para aqueles usuários de Pro Tools Vintage
como para os em crista da onda: Disk Allocation.
Papo técnico agora: A maioria dos usuários de Pro Tools usa
o Disk Allocation do Pro Tools como um jeito de diminuir o estresse de tráfego
de dados em sessões muito grandes ao utilizar diferentes grupos de pistas
direcionadas a diferentes HDs conectados ao computador. Basta definir os
rotemaneto de cada pista do Pro Tools para determinado HD, pista por pista,
tudo de um jeito super simples na janela Disk Allocation, mas pouca gente imagina
que o Disk Allocation é uma excelente ferramente para você fazer um backup da
gravação "on the fly", ou seja, gravar em dois HDs simultaneamente a
mesma coisa como se fosse um sistema em RAID, que oficialmente o Pro Tools não
permite. Isso é muito legal para quem vai gravar um show onde não dá para parar
e perguntar para o artista: - Colega, desculpa, mas dá para tocar de novo
porque deu pau no HD?
Vamos ver os dois métodos agora:
A. Gravação em
múltiplos HDs
1. Obviamente, você vai precisar de dois HDs ao menos. Nem
pense em usar um HD particionado, pois você vai reduzir a performance à metade
e o resultado será desastroso. Tem que ser 2 HDs físicos separados e de
preferência de alta rotação, tipo 7200RPM ou SSD. Podem ser 3, 4, quantos você
quiser.
2. Abra a janela Workspace do menu Setup e verifique se
todos os HDs conectados ao computador tem privilégios de gravação e de leitura.
Verifique a coluna Permissions se aparece R , P ou T. R é Record (Grava), P é
Playback (Reproduz) e T é Transfer (Transfere), é esse primeiro que queremos,
se não for, clique na letra e mude adequadamente.
FIG 1 - Ajustando os
HDs para gravação.
3. Daí você cria todos as pistas na sessão e vai de novo em
Setup/Disk Allocation. Alí você vai ver todas elas e em qual HD elas irão
gravadar, que por default deve ser o HD onde a sessão foi criada. Selecione
então as pistas que você quer direcionar para outro HD, clique com o botão
direiro ou na setinha e mude o HD na janela que aparece.
FIG 2 - Janela Disk
Allocation com 8 pistas sendo gravadas em um HD e outras 8 em outro HD.
Só isso, agora basta gravar e todos os seus arquivos estarão
distribuídos por seus HDs, melhorando a performance.
Não se preocupe onde os arquivos do outro HD foram parar. Se
você entrar nele você vai perceber que o Pro Tools criou automaticamente uma
pasta de mesmo nome que a que está em
seu HD original onde a sessão foi salva, tudo bonitinho e como deveria ser.
FIG 3 - A Pasta no HD
externo criada autmaticamente com o mesmo nome da sessão.
B. Gravação duplicada
em vários HDs
Essa é boa!
1. Crie sua sessão com todos as pistas que você vai usar.
2. Selecione todas elas, clique com o botão direito sobre
uma delas e escolha Duplicate.
3. Veja que todas as pistas duplicadas tem o mesmo input de
seus irmãos, mas também os mesmos outputs, portanto clique no slot de definição
de saída delas e escolha outras que não estão em uso ou mute todas elas, para
que você não monitore ou dê playback com sinais duplicados.
FIG 4 - Pistas
duplicadas e com suas saídas devidamente ajustadas.
4. Agora vá em Setup/ Disk Allocation, selecione todas as pistas
duplicadas e mande gravar em outro HD do mesmo jeito que expliquei alguns
centímetros atrás.
FIG 5 - As pistas
duplicadas em outro HD.
Agora você já está gravando no seu HD principal e também a
mesma coisa em um HD de Backup, exatamente como um sistema em RAID. Se um dos
HDs falhar o outro salva a sua pele.
FIG 6 - Pistas
idênticas gravadas em dois locais diferentes ao mesmo tempo.
São essas coisinhas que fazem a gente gostar do Pro Tools e
não sou só eu e você não que acha isso, tem mais meio mundo achando isso também,
estejam eles no 7 ou no 11.
Tá certo que a gente fica nervoso nesse pais com a privação
ao dinheiro justo que nos é concedida, quem não gostaria de poder investir certo,
de forma consciente e cada vez mais? Mas alegre-se, pois o que realmente
importa acontece no ambiente orgânico protegido pela pia-máter e não no DSP
dentro da placa e nem na sequência de bits no Mix Bus.
Um abraço e até a próxima!
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